terça-feira, 17 de maio de 2011

MESTRES DO ARTESANATO


falar de artesanato é falar mais de pessoas do que de objetos, pois o produto resultante do trabalho artesanal é um produto com alma, onde estão presentes o saber, a arte, a criatividade e a habilidade.” (Otavio Paz, escritor mexicano, Prêmio Nobel de Literatura).
Segundo Otavio Paz, o Artesanato é essencialmente o próprio trabalho manual ou produção de um artesão. O artesão é aquele que produz objetos pertencentes à cultura popular. Considera-se Artesanato todo trabalho manual, onde mais de 80% da peça foi fruto da transformação da matéria-prima pelo próprio artesão. Geralmente o produto reflete a relação do artesão com sua cultura e o meio onde vive.

Reconhecendo a habilidade manual e os traços culturais empregados nas peças produzidas, que demonstram a profunda sensibilidade da vida simples do interior, onde geralmente vivem os artesãos mineiros, foram homenageados os artesãos: Dona Geralda, fiandeira do município de Francisco Badaró, com quase 84 anos de idade. Dona Zizi, ceramista do Jequitinhonha e mestre Ulisses, escultor de peças em barro, do município de Itinga. Todos os homenageados são do Estado de Minas Gerais.

Foto: Terezinha Furiati – Dona Geralda
Tratando o algodão já pintado


Dona Geralda nasceu na Comunidade de Pacheco, município de Francisco Badaró. Aprendeu com sua mãe desde os 8 anos de idade, o ofício de plantar o algodão e dele criar lindos objetos de usos domésticos no Tear manual, como: tapetes, colchas, caminhos de mesa, almofadas, e muitas coisas mais que a criatividade e habilidade lhe permitirem. Foi a pioneira da cidade e se tornou uma multiplicadora do ofício, desde as plantações do algodão até a produção das peças. Seu marido colocava as cochas que ela fazia, no lombo do burro e saia pelas ruas vendendo, para sustentar a família. Atualmente os homens trabalham com apicultura e na produção de cachaça como fonte de renda.

Foto: Breno Antunes – Dona Zizi

Dona Zizi, moradora de Guaranilândia distrito de Jequitinhonha, considerada como uma paneleira.  Neta de índio e órfã aos 5 anos de idade aprendeu com a avó o ofício de fazer panelas de barro. Da argila extraída as margens do rio Jequitinhonha, rio que também era o meio de se chegar até o município de Almenara para vender sua arte. Com o tempo passou também a ensinar seu trabalho. Mesmo sem muito reconhecimento continua a viver de seu trabalho.


 Foto: Blog do Banu – Mestre Ulisses

Mestre Ulisses é do município de Itinga, começou a trabalhar com o barro desde menino, produzindo arte através de peças que contam seus casos, e neles as lendas e histórias do povo de sua terra. Críticas ao descaso de muitos diante das necessidades do povo do Vale de Jequitinhonha. Nas mãos e voz do mestre Ulisses, as lendas se materializam em obras criativas, que mostram o lado cômico como ele vê a vida. Suas estórias são irreverentes, como suas esculturas. Retratam a mitologia, homens em lombos de burros, mulheres crucificadas simbolizando a dura jornada das donas de casa e suas atividades na lida do interior. Segundo ele, as mulheres se queixam da cruz que tem de carregar, durante a gravidez, e a vida das mulheres do vale. Sua Obra mais procurada é a de um grande diabo segurando um homem de terno. A história desta peça fala sobre a ganância do homem simples, que vendeu sua alma ao diabo para ficar rico. Completa sua crítica com o valor da peça, R$666,66, simbolizando o número da besta descrito na Bíblia.

As homenagens foram feitas durante a 12ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG, que aconteceu dos dias 2 a 7 de maio, na praça de Serviços – Campus Pampulha. Veja o vídeo da Cobertura do evento:   http://youtu.be/cRX-VC13khU