“falar de artesanato é
falar mais de pessoas do que de objetos, pois o produto resultante do trabalho
artesanal é um produto com alma, onde estão presentes o saber, a arte, a
criatividade e a habilidade.” (Otavio Paz, escritor mexicano, Prêmio Nobel de
Literatura).
Segundo Otavio Paz, o
Artesanato é essencialmente o próprio trabalho manual ou produção de um artesão.
O artesão é aquele que produz objetos pertencentes à cultura popular. Considera-se Artesanato todo trabalho manual, onde mais de 80%
da peça foi fruto da transformação da matéria-prima pelo próprio artesão. Geralmente o produto reflete a relação do artesão com sua
cultura e o meio onde vive.
Reconhecendo a habilidade manual e os traços culturais empregados
nas peças produzidas, que demonstram a profunda sensibilidade da vida simples
do interior, onde geralmente vivem os artesãos mineiros, foram homenageados os
artesãos: Dona Geralda, fiandeira do município de Francisco Badaró, com quase
84 anos de idade. Dona Zizi, ceramista do Jequitinhonha e mestre Ulisses, escultor
de peças em barro, do município de Itinga. Todos os homenageados são do Estado
de Minas Gerais.
Foto: Terezinha Furiati –
Dona Geralda
Tratando o algodão já
pintado
Dona Geralda nasceu na Comunidade de Pacheco, município de
Francisco Badaró. Aprendeu com sua mãe desde os 8 anos de idade, o ofício de
plantar o algodão e dele criar lindos objetos de usos domésticos no Tear
manual, como: tapetes, colchas, caminhos de mesa, almofadas, e muitas coisas
mais que a criatividade e habilidade lhe permitirem. Foi a pioneira da cidade e
se tornou uma multiplicadora do ofício, desde as plantações do algodão até a
produção das peças. Seu marido colocava as cochas que ela fazia, no lombo do
burro e saia pelas ruas vendendo, para sustentar a família. Atualmente os
homens trabalham com apicultura e na produção de cachaça como fonte de renda.
Foto: Breno Antunes – Dona
Zizi
Dona Zizi, moradora de Guaranilândia distrito de Jequitinhonha,
considerada como uma paneleira. Neta de
índio e órfã aos 5 anos de idade aprendeu com a avó o ofício de fazer panelas
de barro. Da argila extraída as margens do rio Jequitinhonha, rio que também
era o meio de se chegar até o município de Almenara para vender sua arte. Com o
tempo passou também a ensinar seu trabalho. Mesmo sem muito reconhecimento
continua a viver de seu trabalho.
Foto: Blog do Banu –
Mestre Ulisses
Mestre Ulisses é do município de Itinga, começou a trabalhar com
o barro desde menino, produzindo arte através de peças que contam seus casos, e
neles as lendas e histórias do povo de sua terra. Críticas ao descaso de muitos
diante das necessidades do povo do Vale de Jequitinhonha. Nas mãos e voz do
mestre Ulisses, as lendas se materializam em obras criativas, que mostram o
lado cômico como ele vê a vida. Suas estórias são irreverentes, como suas
esculturas. Retratam a mitologia, homens em lombos de burros, mulheres
crucificadas simbolizando a dura jornada das donas de casa e suas atividades na
lida do interior. Segundo ele, as mulheres se queixam da cruz que tem de
carregar, durante a gravidez, e a vida das mulheres do vale. Sua Obra mais
procurada é a de um grande diabo segurando um homem de terno. A história desta
peça fala sobre a ganância do homem simples, que vendeu sua alma ao diabo para ficar
rico. Completa sua crítica com o valor da peça, R$666,66, simbolizando o número
da besta descrito na Bíblia.
As homenagens foram feitas durante a 12ª Feira de Artesanato do
Vale do Jequitinhonha UFMG, que aconteceu dos dias 2 a 7 de maio, na praça de
Serviços – Campus Pampulha. Veja o vídeo da Cobertura do evento: http://youtu.be/cRX-VC13khU